segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Crônica Do Descompasso.


Ao se conquistar o entendimento das relações humanas, quando suas ligações e formas de vínculo tornam-se inteligíveis ao seu entendimento, nas dimensões do possível, ou ao menos acreditando que elas pareçam compreensíveis a si, em sua completude e complexidade, o sujeito observador das mesmas, enfim, passa a ser brindado com situações em que é alçado à categoria de espectador privilegiado de situações e conjunturas incoerentes, por vezes, como a sua própria gênese e essência: a natureza humana...

Recordo-me dos momentos que ela, assentada ao lado de seu amante, este em face oposta à sua, esforçava-se para principiar um diálogo profundo que correspondesse aos seus ímpetos avivados, intemeratos em sê-lo, que careciam de reflexo. Ousados apaixonados requerem, legitimamente, até mesmo carecem e às vezes exigem isso: precisam de conversações com seu objeto de desejo, cobiçam sua atenção, exprimem-se sob formas diversas.

Todos os modelos de posicionamento emocional e intelectual que comportam em artífices são empregados como meio de atrair-lhe a concentração, voluntária ou involuntária, no que têm a dizer e exprimir... Gestos e palavras que demonstram cortesia, ternura, afeto, amor...

Já ele não! Não retrucava suas investidas ávidas por comunicação; não revelava, ou mesmo esboçava reações sentimentais de afeição. Não se portava dessa maneira. Era calado, silencioso, quieto. Sempre fora assim, não era a primeira vez que procedia dessa forma... Sua conduta para com seus sentimentos, intimismos emocionais em geral, sempre foram reservados e discretos ao extremo, consta-se.

Doía-lhe de certa forma, quando contemplava o semblante de sua idólatra afogando-se em expectativa, saber que não estava reagindo da forma que ela esperava. Mas a força mais marcante que atuava sobre suas ações era a própria história pessoal que o justificava; as formas de se proceder em fluxos foram inseridos há tempos! Já haviam se estabelecido no decorrer de suas experiências pregressas, traduzindo–se em uma hábil perícia, ou ausência dela..., em portar-se de forma insensivelmente inexpressiva em situações como essa. Simplesmente não fruía de linguagem escorreita. Eram comportamentos e posturas vernaculares adquiridas ao longo da vida. A única que tivera.

Constituía-se como se apresentava hoje, um efeito do que fora construindo pouco a pouco no passado. Suas respostas eram escassas, quase nada: não costumava redargüir as ações investidas pelo coração alheio. Exprimia-se menos ainda e, não mudaria assim num instante, de forma iminente; ou melhor, não conseguiria tornar-se diferente do que era, mesmo que tentasse, mesmo que tentasse com esforço: era um empreendimento além de suas sumidades...    

Seu lado mais egoísta, apegado de mais a si, às vezes em detrimento cruel à ânsia do outrem, quase achava patético aquele empenho para atingir sua atenção; Certos momentos, quando sentia seus sentidos atordoados, até mesmo esmagados, pela ausência de reciprocidade, ela tentava em meio àquele ensurdecedor silêncio ensaios tímidos de cantorias e balbucias melodiosas interessados em exorcismar aquele estado de latência; ele, no entanto, chegava a considerar risívio, até mesmo digno de escárnio algumas tentativas.

Os longos e, freqüentemente, intermináveis intervalos de silêncio, permaneciam ali entre os dois, fazendo-lhes companhia, destacando-se mais que o ensejo do casal... Oportunista que é do estado de ausência de quem cala, o silêncio sugava-os: tirava principalmente dela, a graciosidade e os encantos da alma feminina apaixonada.

Ela ali ao seu lado, inerte, privada de capacidades para de algum modo agir; sem nada estar ao alcance de suas idéias, pois não tinha ao que reagir. Apesar de tudo, sentia no âmago, a proximidade de uma resolução ao impasse. Sabia que poderia oferecer uma parcela da imensidão do seu sentimento; para ela, o que não poderia acontecer jamais era a interrupção definitiva de um sentimento tão belo...

 E ele, faltando com inspirações à altura da afeição: sem querer nada realizar, nem ao menos fingir ou simular; concluía por meio de deduções óbvias que, aquelas situações cessariam imediatamente; não através de uma atitude que rompesse com tudo presenciado até o momento, mas sim, com a proximidade de um remate definitivo a tudo!

 Uma identidade gerada, e que prosperou durante uma vida, não poderia ser abandonada assim, por qualquer coisa. Era o que ele pensava.

Já foi dito certa vez, que o oposto do amor não é o ódio, e sim o silêncio. O amor limita-se às capacidades de quem o possui lhe expressar, é fato; os limites da linguagem do entusiasta demonstram e definem os limites do amor sentido.

Um, inspirado que seja, não ama por dois.

17 comentários:

BLOGDOED disse...

Um, inspirado que seja, não ama por dois.


Excelente fechamento!

Alessandra Allegr!a disse...

Deliciando-me...

Obrigada pela visita, e que grata surpresa tuas palavras expostas e abertas neste pano branco!
Continue...

Rafael Almeida Teixeira disse...

Vc estuda letras, filosofia?

Ewerton disse...

Gostei do encerramento!
O silêncio é a pior arma, e um, inspirado que seja, não ama por dois!

http://peidaesaipoeira.blogspot.com

Dih Fernandes disse...

Nossa cara um ótimo texto!
Meio grande mas muito bom, ao menos você teve o bom senso de separar por paragrafos, coisa que ultimamente está difícil de ver!

http://dihdusbeko.blogspot.com/

Flá Romani... disse...

Que texto bem escrito é hiper inteligente!!!!! parabénsssss

Anônimo disse...

Belo texto,muito criativo




http://angucomtaioba.blogspot.com/

Anônimo disse...

Nossa, vai ter inspiração assim lá longe!
E de uma olhada nos outros textos também, caceta, parabéns!

Abdalan disse...

Nossa... achei o link para o comentário!

Não acha que o amor, esse pássaro assustado, dá um pulo para mais longe quando o silêncio é quebrado? Não é amor, o impasse? A idéia que a outra parte sente o que desejamos que sinta? Se falar é de todo necessário, que seja um sussurro, quase silêncio, para que não se desperte o amor, bicho silencioso.

Abdalan
http://abdalan.blogspot.com/

Expressão Coletiva disse...

Adorei o jeito de escrever seu e sintetizas as coisas e expor as ideias


Abraço

Rafael Tupiná disse...

belo texto hein
eo fatalty entao

mt bom

da um look no meu blog tbm
Sabe akelas piadas que de tao sem graca sao engracadas???
reuni varias delas
em.....
http://culturatups.blogspot.com/


abraços

Wander Veroni Maia disse...

E aí kra, blza!

Adorei a frase final. Realemnte, tenho que concordar contigo: o pior castigo do amor não é ódio, mas sim o silêncio. Afinal, ódio e amor caminham juntos na mesma linha tênue.

Aqui, quero lhe convidar para passar no meu blog, o Café com Notícias.

Abcs,

=]
__________________________
http://cafecomnoticias.blogspot.com

Anônimo disse...

Ou seja:

Homens são de Marte, mulheres são de Vênus.

Beijos

Fada

http://fadasafada.blogspot.com

kadu hammett disse...

sinceramente,só posso te dizer que escreve muito bem,está de parabéns por ter esses textos como próprios

Maximus (dm) disse...

Odio e Amor anda como uma linha de trem, mais nunca se ajuntam.. vão ate o fim de certo modo..

Mais se n existi uma, n existe a outra.. SEmpre,e pra sempre vai existir odio e amor... é assim..

as vezes odio pode ser algo bom! N sofrer por amor, que é complicado. Mais prefiro o amor, se for verdadeiro e vc ciodar de tudo certinho é o melhor sentimento da vida..

Feliz Dia dos Namorados...
_________________________________
www.conquistadoresdm.blogspot.com

Expressão Coletiva disse...

Hdorei as reflexoes e como voce fala sobre a literatura na vida cotidiana


ABRAÇO

Lidianne Andrade disse...

concordo plenamente
axo que amo pelos dois...ou pelo menos tento...