sexta-feira, 11 de julho de 2008

Conto: Uma Síncope No Existir. Parte Final


Eu me sinto apto a descrevê-la assim como eu quero e imagino. Se corresponder ao que verdadeiramente ela era já não é tão importante. A minha inventividade flui incontrolável: romper esse rasante de criatividade e sensações não é o que eu pretendo. O prazer provocado não dava pra ser desconsiderado: inquieta sim; se escondia em discrição que as vezes era um tanto contraditória na sua indiscrição. Contou-me de adversidades companheiras desde a primeira idade, aprendeu a conviver desde o principio ao que não é esperado por ninguém. Naquele instante, mostrou que são seqüelas evoluídas para uma artilharia particular. É arma pessoal. Arma branca. Arma de fogo.

Mas não era tudo assim tão inequívoco. Não era mesmo! Exigiu, confesso, para que eu a entendesse completamente, o auxílio e estímulo de minha sensibilidade a flor da pele, pois para compreendê-la, entreguei-me à condição humilde, deixando-me mergulhar na confusão organizada das suas impressões, desse modo atribui-me à possibilidade de lê-la; de sabê-la como verdade pura. Conceber essa estética apresentada por ela sobre ela mesma: uma rede de significações impensadas. Jamais pensadas por mim! Desgastante? Sim!

Chego a imaginar às vezes... Que elaborava compulsivamente seus relatos e demonstrações, como se vivesse apenas para narrá-los, contando o que vivia, obcecada em expressar tudo, acreditando na possibilidade de recomeçar ou viver novamente o passado, numa espécie de experiência psicoterapêutica à la Freud, e dessa maneira, refazê-lo por meio das representações.

Mas de forma alguma vazava insegurança. Era um mar de certezas. Puros desejos de concretização. Vontades empíricas no desenhar o real. Realizava as vontades com traçados individuais, bem pessoais, só dela. Defrontava-se com a essência de tudo ao voltar-se para as divagações que lhe assaltava. Objetos inanimados ou há tempos não animados, em seu estado bruto, ganhavam significados mais profundos e dimensionados ao transpassar o prisma de sua visão mais uma vez, já que atribuía por meio de sua personalidade peculiar conotações criativas todos os momentos que mais uma vez e em mais uma situação resgatava suas lembranças. Reconhecia seu rosto nessas formas internas e externas que via e que recordava. Pra ela sempre era um grande prazer tudo isso.

Todo o seu conjunto, seu conteúdo, era intensamente provocativo; insistia durante a experiência de estar em sua presença, uma adaptação de nossas concepções já elaboradas ou mal elaboradas, às suas. Nisso era dominadora. Era um campo dialético personificado em carne macia, onde se abatem conceitos diversos resultando em conceito melhores definidos na nossa laboração e nos sentimentos que compõem nosso universo pessoal, apresentados por meio de sensações diversas. Novas. Percorrer seu corpo me pôs em face de fundamentos que adquiriram diversas fisionomias e caracteres no ato de chocar-se com ela.

O que em mim era esquecido, fruto do distanciamento que os atos corriqueiros e cotidianos provocam, foi resgatado pelo contato que mantivemos. As minhas boas lembranças que já tinham contornos meio velados e alguns fatos que me motivavam e me interessavam outrora, foram trazidos à tona quando percebi que aquela dona havia algo em si que se justificava apenas em ser. A vida válida por ser vida; remontou-me reestruturando, transformando o inconsciente em centelha fascinada e inspirada. Um mar de reações adversas e inesperadas, um contraste de características, uma colisão aos meus olhares.

Hoje compreendo que aqueles momentos curtos que passei agraciado com sua presença me direcionaram para um percurso que não conseguiria imaginar sendo seguido antes de conhecê-la. Sem dúvida, a firmeza latente de suas características, o exotismo de suas abordagens soníferas, acrescida de uma beleza extravagante, ou ponderada, não me recorda com certeza, garantiu-me um norte, um chão. Permitiu–me, posteriormente, relações ornamentadas de amor, entremeadas com fervor que propulsa no regojizar poucas vezes testemunhados na corrente dos fatos de uma vida inteira; essa, vivida por mim. Desafiava com orgulho o que lhe confere as circunstâncias. Assim, conquistou-me, assim como creio na minha fiel obviedade, tem conquistado idólatras ao correr e decorrer dos anos, dos minúsculos milésimos.

Tudo isso eu não poderia deixar de contar. Agora nem sei se ela foi assim tão determinante. Pode ser que na verdade ela apenas me ajudou, mesmo inconscientemente, a vê tudo no mundo sob uma nova perspectiva. Ajudou-me simplesmente mostrando que tudo na vida si mostra da forma que você quer enxergar.

Há um tempo e um lugar para tudo na vida: ouvir isso pode ser deprimente a quem quer imediatismos. Na correria irrequieta da realidade um dia surge o acontecimento que revela a sapiência da dita frase. Eu precisava de um rumo, o tempo aparentemente surgiu e eu fiz o lugar; o momento veio. Vai saber!

Curioso: analisando tudo agora, fico pensando que a vida é muito engraçada. Tudo nela ganha a dimensão que você quer. Nessas reminiscências, contando tudo isso, fico com uma falta tremenda dessa garota. Uma saudade. Que nostalgia.

De qualquer maneira, essa sujeita que me deu motivos para voltar a enxergar, agir, recriar e imaginar. Escrevo aqui, em tom confessional, o registro das lembranças da passada ágil e vigorosa de uma mulher inesquecível. Uma síncope no meu existir.

12 comentários:

Thaís A. disse...

Você escreve muiito bem.

ps.: diminua um pouco o tamanho dos seus textos ;)

Beijos

anderson pinheiro a.s. disse...

Muito bom...
vou procurar as outras partes!
=D
o texto, bem feito...,
o blog ta massa.
boa sorte com ele!

>>RÁDIO BAGACEIRA<<
http://radiobagaceira.blogspot.com/

Ewerton disse...

gostei bastante do texto, você escreve bem, articula muito bem as palavras, e tem um lexico ótimo!
só que são um tanto grandes os textos!

Pedro disse...

muito bom!!!

gostei muito do blog beijox!!!

Mariana Castela disse...

você escreve muito bem !
adorei o post !
beijo!

William Campos da Cruz disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Thais disse...

gostei do seu blog
confesso que não li até o fim,pois é muito grande,mas ele está bem banaca
um abraço

Anônimo disse...

cara valeu seu blog e muito bom nt 10.

Ricardo Thadeu (Gago) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Thadeu (Gago) disse...

Bem, seu blog é interessante e leve pra abrir (o que é um aspecto muito positivo.).
Em relação a este texto o que me chamou a atenção foi a linguagem rebuscada e o conteúdo extremamente bem trabalhando, parabéns.

Visitarei mais vezes.

Anônimo disse...

Nossa, ainda estou impressionado com a capacidade com que voce escreve seus textos. Esse conto é concerteza muito fascinante, viajei por lugares distantes sem sair da frente do PC. Isso concerteza é um dom que voce tem, que nunca deve abandonar.
Parabéns!
Já sou seu fã.

PS: Imprimi uma copia para eu poder lê melhor e procurar entender mais ainda.

Parabéns pelo blog e por ser um otimo escritor de contos!

Abraço =D

Unknown disse...

nossa que maravilha meu sobrinho lindo,fofo,maravilhoso que tia ama de paixão é super,hiper inteligente
amo demais,beijos